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SOBRE BLOQUEIOS, AMBIENTES PERFEITOS E OUTRAS DESCULPAS PARA NÃO ESCREVER.

  • Por Heitor Vasconcelos
  • 17 de mai. de 2017
  • 5 min de leitura

O mundo é um lugar barulhento e chato, a situação nunca é favorável para você produzir. Mas se ela fosse, será que seu bloqueio iria embora? Ou esses obstáculos não são justificativas para você procrastinar?

 

Pois é, cutuquei a ferida antes de o texto começar. Eu pediria desculpas, se minha intenção não fosse te colocar nos trilhos. Agora vamos lá, jogar algumas verdades para você que está aí reclamando da própria incapacidade de transferir ideias para o papel (ou tela): sim, tem aquele conceito sensacional rondando sua cabeça, mas toda vez que você senta para moldar esta coisa selvagem, alguma coisa entra no caminho. Inseguranças, uma enxaqueca, ou um compromisso de última hora... E quando você está chegando lá, a campainha toca, a família chama, o cachorro late, ou o chefe aparece no departamento.

As coisas seriam diferentes se você tivesse um escritório só seu não é? Um local propício, com isolamento acústico, objetos e cores que estimulam a criatividade. Mas vamos supor que isso não seja possível, pois você está na realidade de 99,9% da população brasileira... Contas precisam ser pagas, e se você não tem papai e mamãe para bancar seus sonhos, boa parte de seu esforço se concentra no simples fato de sobreviver mais um dia.

Hoje em dia não é rico aquele que possui dinheiro, mas sim aquele que possui tempo. E naquela fração de hora que você consegue para escrever, aparece um bloqueio. Eu sei, é pra ficar muito p. da vida... Mas existem lugares onde o mundo barulhento e cruel fica da porta pra fora. Você pensa nisso ao parar numa loja de café com wi-fi. E se começasse as economias para comprar um notebook? Ou levasse papel e lapiseira mesmo, sempre que pudesse parar num desses oásis para floquinhos de neve especiais? Será que, finalmente, essa arte que você tanto deseja sairia do abstrato? Aí você pensa em toda uma rotina, compra não só o aparelho, mas uma chave de software específico para escritores, com várias divisórias para anotações, tons opacos para não cansarem a vista, contadores, metas, gráficos, etc.

Você tira uma ou duas horas para a loja de café. E nesse tempo você só consegue encarar aquela tela que nem um imbecil. Mas como, se estava tudo preparado? Você até fez uma playlist especial!

Bem, deixa eu te contar um segredo: o “ambiente perfeito” é a desculpa mais patética que existe. O processo criativo vem da necessidade de se desenvolver uma ideia, e quando esse desespero bate, amigo(a)(x)(@)(y)(z)... Você vai escrever não importa em quais condições. Tem uma citação que resume bem o meu ponto, mas antes de mostra-la quero contar um negócio pessoal. Eu estava sofrendo com os tais “bloqueios”, por todos os motivos que se possa imaginar e mais um pouco... Sabe a historinha que contei lá em cima, do cachorro e da loja de café com wi-fi? Baseei-a na ponta do meu iceberg de procrastinação. Um belo dia, minha família resolve viajar para o Paraguai por sabe-se lá qual vez. Eu era meio avesso a viagens, mas desta vez eu aceitei o convite de visitar nossos amigos guaranis (e outra pessoa teve que cuidar do cachorro, detalhes). Eu já havia terminado a primeira revisão de “Aleros”, estava no desenvolvimento avançado de “Carne Fantasma”, então talvez precisasse de um freio, sei lá, um momento pra esquecer essa pressão toda em cima da produção artística.

“Então, essas serão minhas férias”, eu pensei. “Não vou tocar em N-A-D-A relacionado à escrita, vou só curtir e festejar”. Era uma semana fora de casa, em altas road trips por Ciudad del Este, Foz e Puerto Iguazú... Meu futuro incerto na sopa de letrinhas, que ficasse para depois!

Isso só durou uns dois dias.

Eu não sei como explicar o que aconteceu... Assim, eu não uso drogas (além do café), mas sabe quando o indivíduo consome narcótico e a parada “bate”? Então, meu bloqueio se foi de um jeito que, MANO, eu fiquei desesperado. Aqui em casa eu tenho todas as ferramentas possíveis para desenvolver um bom texto, mas lá eu estava sem computador e sem sinal de celular, sem parar quieto num canto, sempre visitando museus, free shops, trilhas, cataratas... Minha musa é um troll.

Resultado? Eu tive que me virar. Quem me conhece sabe como o-d-e-i-o teclado de celular, mas passei os intervalos grudados nele. Privei-me das poucas horas de sono disponíveis, e por mais que eu tenha aproveitado cada segundo dessa aventura na América Latina, quando parava em restaurantes ou na casa de alguém com wi-fi eu me desligava de tudo, absolutamente TUDO, para escrever o que vinha em rascunhos de e-mail. Pois é, nem um app de escrita eu tinha... E se eu não tivesse celular, compraria um caderno. Se faltasse dinheiro pra caderno, eu roubaria guardanapos. No mais desfavorável dos ambientes, minha criatividade floresceu. “O mundo não parou de girar só para eu escrever. Mesmo assim, eu consegui.”

E se eu, Heitor Vasconcelos Serpa, o maior procrastinador da história, consegui, o que impede você? Para fechar bem esse artigo, creio que este poema atribuído a Bukowski cubra as partes que não mencionei:

AR LUZ TEMPO E ESPAÇO Charles Bukowski

“… você sabe, já tive uma família, um emprego, mas alguma coisa sempre estava no caminho mas agora vendi a casa. encontrei este lugar, um estúdio enorme, você precisa ver o espaço e a luz. pela primeira vez na minha vida terei um lugar e tempo para criar.”

não, jovem, se você vai criar fará isso mesmo que trabalhe 16 horas por dia numa mina de carvão ou criará num cubículo com 3 crianças enquanto vive da previdência social, criará com parte de sua mente e de seu corpo estourados, criará cego aleijado, demente, criará com um gato escalando suas costas enquanto a cidade inteira treme em terremotos, bombardeios, alagamentos e fogo.

jovem, ar e luz e tempo e espaço não têm nada a ver com isso e não criam nada exceto talvez uma vida mais longa para encontrar novas desculpas.”

BÔNUS: FERRAMENTAS PARA AJUDAR NA ESCRITA

Bom, ninguém é de ferro né? Caso você precise de algum “incentivo” para facilitar a produção, eu tenho umas coisinhas que podem ajudar:

  • Dubtrack.fm — A melhor definição para este site é “rádio coletiva”: há salas de bate-papo divididas por temas. Dentro de cada uma há uma playlist de YouTube gerenciada pelos próprios usuários. Claro, tem moderadores estabelecendo regras, como não fugir do gênero musical proposto (sem heavy metal numa sala de chillpop, por exemplo) e estabelecendo um tempo limite para cada som... O mais importante é que você pode escolher a sua “estação” e deixar como trilha de fundo; além de proporcionar isolamento acústico com um bom e velho fone de ouvido, você conhecerá bandas que não aparecem numa pesquisa padrão.

  • FocusWriter — Um software de escrita cujo objetivo é te deixar livre de distrações. Um equivalente grátis do “Scrivener”, com as opções de estabelecer metas, alterar tema de fundo e até colocar barulhinho de máquina de escrever. Um luxo.

  • Dimmer — Você se dá bem com o Word, tem disciplina, mas a tela branca machuca seus olhos? Este aplicativo simples resolve o problema ao tirar o brilho do monitor. Antigamente, quando os computadores tinham aquela TV como monitor, vendia-se tela escura para encaixar por cima do visor... Pense no Dimmer como uma versão executável disso. Detalhe: quem o projetou foi um lusitano.

  • Evernote — Difícil alguém que trabalhe em escritório não conhecer este, mas o mencionarei de qualquer maneira. Evernote é uma plataforma de gerenciamento em nuvem com o propósito de organizar a sua vida: você cria notas, as organiza em cadernos, edita quando e aonde precisar, pois dá pra abrir sua conta no navegador caso não possua o programa instalado. É um Dropbox otimizado para a escrita, pronto falei.

Use-os com sabedoria.

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